Home Esporte OPINIÃO: A eliminação do XV de Piracicaba na Série A2

OPINIÃO: A eliminação do XV de Piracicaba na Série A2

por Marcelo Sá

Time que joga sem tesão, apresenta futebol broxante

 

Hoje é o dia do famoso: ‘Eu avisei’; ‘Estou falando desde o ano passado’; ‘Eu já sabia’; ‘Na várzea tem jogador melhor’. Entra ano e sai ano, mas o XV sempre anda em círculos. Estes, viciosos, de achar que todo mundo tem a obrigação de ajudar, quando na verdade deveria se comportar como um time de futebol profissional e andar com as próprias pernas, sem esperar nada de ninguém, gerar e buscar sua própria receita. Bom, esse não é o momento de falar sobre isso, pois seriam palavras ao vento.

Vamos falar de eliminação na Série A2. Paulo Roberto era um sonho de consumo pela grande maioria. Não deu certo. Vivemos esperando um salvador da pátria, mas nunca vamos encontrar. Continuo gostando do trabalho do Paulo. Um treinador que não permite interferência da diretoria, não engole jogador goela abaixo, tem total autonomia no departamento de futebol e não fica de mimimi com jogador. Papo reto e transparente.

Em 15 anos acompanhando o XV, foi único treinador que não vi falar amém para a diretoria. Não é paternalista, tem uma ótima leitura do jogo, mas isso não quer dizer que, mesmo com essa leitura, vai acertar em tudo. Quais peças tinha a sua disposição ? As peças que, dentro do planejamento financeiro traçado, ele pediu. Ele é 100% responsável pela montagem do elenco. Contratações boas e ruins, são de total responsabilidade dele.

E se essa responsabilidade é dele, qual a parte que cabe a diretoria ? Dar o respaldo ao treinador. E isso foi dado. Pré-temporada, salários em dia e, quando atrasou foram poucos dias, início da montagem do elenco em outubro do ano passado. Eu posso não gostar de A, B ou C na diretoria, mas o que eu posso cobrar dos dirigentes ou do gestor de futebol nesse momento ? Nada. Paulo Roberto era um escudo deles. Blindou o departamento de futebol, centralizando toda a responsabilidade. Decisão acertada na minha análise.

Na cultura do futebol, sempre tem que haver um culpado. Apesar de gostar do trabalho do Paulo, não posso fazer vistas grossas. Onde ele errou, na minha visão ? Montagem do ataque. Fatores colaboram para isso, mas não justifica. O XV precisando vencer, e os torcedores ouvindo lamentações: ‘Perdemos o Mateus Melo, Artur, Enzo’. É sério que não temos a competência de buscar no mercado jogadores melhores que eles ?

Iniciamos o campeonato com os ‘craques de Copa Paulista’, Vitor Braga e Samuel Andrade. Eu não ia criticar nos dois primeiros jogos do campeonato, mas quando vi a primeira escalação, eu pensei: ‘Será que contratamos tão mal assim no meio-campo, para eles serem titulares ? ‘Apostamos no entrosamento dos dois’. Aí eu pergunto: E esse entrosamento, no passado, nos levou onde ?

Primeira vitória na quarta rodada, e expectativa de mudanças. XV jogando com as características do treinador, futebol de marcação forte, retroativo, o que eu chamo de jogar por uma bola. Estava dando certo. Um futebol com gosto de boldo, mas que resolvia. Não fazia gols, mas também não tomava. Era o futebol, que eu acreditava que no mata-mata, seria o jogo ideal.

Porém, chegaram os atacantes. A característica de jogo, não sei se naturalmente ou propositalmente, mudou. Vieram as goleadas e a alegria de um novo XV no campeonato. Pura ilusão. Acordamos tarde para perceber que, o futebol horroroso nos daria mais chances de subir. Agora já foi. Não volta mais. Mas, e se tivéssemos jogado o mata-mata fechadinho e perdêssemos ? Daí estaríamos reclamando de não pôr os atacantes contratados para jogar. No futebol, só presta se vence.

E qual a culpa dos atletas ? Entrar em jogo de decisão, jogando como o futebolzinho de terça a noite, que acabou, tem churrasco, é muita sacanagem com o torcedor. Falta de tesão para entrar em campo.

Que vergonha ! Saudades do espírito do lateral-direito Robertinho, sanguíneo, como o definia Tarcísio Pugliese. Brigava até pela posse de um arremesso lateral.

Que espírito de derrotado que o XV entrou em campo, no Barão, contra a Santista. Que falta de ambição. Cada jogo era um capitão diferente. Sinceramente, para mim, isso não é prestigiar atletas experientes, é falta de um líder em campo. E nesse quesito, só o Fernando Henrique se salva. Agora, vida que segue. E o que esperar do XV para a sequência do ano ? Mais do círculo vicioso. “Ah, não tem dinheiro, Copa Paulista com base, treinador que fala amém, e o mesmo de sempre”.

Se me perguntarem: Você manteria o Paulo Roberto por mais um ano ?

Eu responderia: – Depende. Se tirar ele, vamos trazer quem ? Não temos mais o sonho de consumo. Ninguém é insubstituível, mas o Paulo não aceita interferência no trabalho dele. Isso é um fato. Por isso, ele é o maior responsável pela eliminação. Se ele sair, quem será o responsável por montar o time ?

Um gestor que não tem o perfil de dar um tapa na mesa, e que vai acatar o que a diretoria manda ? Virá um outro treinador, com novas ideias ou mais do mesmo, porque a criatividade do XV é zero ? O que a diretoria planeja para o segundo semestre ? Enxugar gelo e por só a base ?

Se for isso, sou contra a permanência do treinador. Quer entrar para ganhar, e lançar alguns garotos da base que estão mais preparados, mesclando com um time competitivo ? Então, Paulo Roberto ou outro treinador experiente. Chega de círculo vicioso.

 

Texto: Marcelo Sá – Jornalista na rádio Jovem Pan News Piracicaba (FM 99, 5)

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