SOLITUDE

por Sônia Alves
A solitude não é solidão. A Solitude é necessária para uma vida cristã saudável.
Mas a solidão ou o barulho não são nossas únicas alternativas. Podemos cultivar uma solitude e um silêncio interiores que nos livram da solidão e do medo. Solidão é vazio interior. Solitude é realização interior. Solitude não é, antes de tudo, um lugar, mas um estado da mente e do coração.
Há uma solitude do coração que pode ser mantida em todas as ocasiões. As multidões, ou a sua ausência, têm pouco que ver com este estado atentivo interior. É perfeitamente possível ser um eremita e viver no deserto e nunca experimentar a solitude. Mas se possuirmos solitude interior nunca teremos medo de ficar sozinhos, pois sabemos que não estamos sós. Nem tememos estar com outros, pois eles não nos controlam. Em meio ao ruído e confusão encontramos calma num profundo silêncio interior.
A solitude interior há de manifestar-se exteriormente. Haverá a liberdade de estar sozinhos, não para nos afastarmos das pessoas, mas para poder ouvi-las melhor. Jesus viveu em “solitude do coração” interior. Também freqüentemente experimentou solitude exterior.
Um dos exemplos mais claros de solidão que podemos encontrar na Bíblia é a solidão dos leprosos, ou a de todos aqueles que sofriam de alguma doença de pele contagiosa — em outras palavras, a referência bíblica à “lepra” é genérica e pode representar numerosas doenças dermatológicas. Uma pessoa leprosa não se isolava por vontade própria, pelo contrário, ela era submetida ao isolamento.

               Lucas 5: 12,16

Estando Jesus numa das cidades, passou um homem coberto de lepra. Quando viu a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: “Se quiseres, podes purificar-me”.

Jesus estendeu a mão e tocou nele, dizendo: “Quero. Seja purificado!” E imediatamente a lepra o deixou.

Então Jesus lhe ordenou: “Não conte isso a ninguém; mas vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho”.

Todavia, as notícias a respeito dele se espalhavam ainda mais, de forma que multidões vinham para ouvi-lo e para serem curadas de suas doenças.

Mas Jesus retirava-se para lugares solitários  “lugares desertos, isolados”, de onde vem o termo “eremita”, “ermitão”], e orava.

Analisando a solitude de Jesus
 A solitude predispõe o coração para o hábito da oração. Lucas construiu sua narrativa para enfatizar ao seu leitor que a solitude era uma experiência habitual, repetitiva no ministério de Jesus.
 A solitude protege nosso coração do temor dos homens. O tempo de oração de Jesus nos surpreende. Quando a sua fama atingia o topo, ele se retirava ao deserto para orar. Em geral, oramos quando as coisas não vão bem, mas somos demasiado preguiçosos para orar quando estamos em um contexto de aparente “sucesso”. Ponto chave: o problema não está na ação de orar ou não orar nas dificuldades, mas sim em orar incessantemente, de todo coração quando as coisas vão bem.
 A solitude revela “a agenda” do nosso coração, o que é mais importante em nossa vida. No momento em que as multidões se aproximavam para ouvi-lo, Jesus buscava a solitude. Isso é bem sintomático. Ele deixava de fazer o ministério da Palavra e da cura e se retirava para orar, para ter comunhão com Deus. A oração deve vir antes da pregação da Palavra. Não estou dizendo que a oração seja mais importante que a Palavra, mas que ela não acontecerá sem a Palavra. Estou me referindo especificamente ao ministério da pregação. A pregação da Palavra deve ser fruto de uma vida de oração e não o contrário.
A solitude prepara nosso coração para os dias de solidão. Jesus sabia que as multidões poderiam procurá-lo pelos motivos mais egoístas e indignos. Todavia, ele sabia que a fama e o sucesso principiariam o antagonismo. A cura do leproso, bem como a cura do paralítico tornam-se o cenário de transição para Lucas. Depois desses  episódios, os fariseus e os escribas iniciam oposição ao ministério de Jesus. Oposição esta, que culminará em um complô para que Jesus seja morto, seduzindo, inclusive, as multidões que o seguiam… A solitude nos prepara para os dias maus.

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